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quinta-feira, 20 de março de 2014

Cinema: Nebraska - Crítica

Por Eduardo Brunetto


Pode-se dizer que a história de um homem o define. Suas atitudes, suas escolhas e as experiências por ele vividas se aglomeram e formam um indivíduo, desde o momento em que ele nasce até o momento em que ele fica velho, quase senil, e passa a acreditar naqueles tipos de promoções “Parabéns! Você ganhou um milhão de reais” de um panfleto. Por isso, conhecendo esse mesmo homem somente como ele é no presente, sem saber de seu passado, é possível realmente saber quem ele é? Nebraska, dirigido por Alaxender Payne e escrito por Bob Nelson, tenta responder essa pergunta.
Já bem velhinho, quase surdo, um tanto quanto alcoólatra e mais teimoso do que nunca, Woody Grant (Bruce Dern) acredita ter ganho um milhão de reais de um panfleto de revistas premiado e pretende ir até Lincoln, Nebraska buscar seu prêmio…a pé. A família tenta impedir, mas seu filho, David (Will Forte), vendo que é impossível, resolve levá-lo. É então que no caminho eles acabam fazendo uma paradinha na cidade natal de Woody, que vira uma celebridade por supostamente estar milionário.
É um grande erro ir assistir esse filme esperando uma história com começo, meio e fim. Nebraska é um filme que te entrega vários momentos aleatórios que devagar vão construindo a narrativa, não muitas vezes levando em conta se estamos acompanhando o grau de importância que algumas cenas têm para a história em si. Melancólico e lento, o roteiro vai te levando pela viajem de Woody e David sem olhar para o banco de trás e perguntar se você ainda está acordado.
Mas, aqueles com paciência de assistir ao filme até o final, perceberão que esse ritmo tem um motivo. Inicialmente o roteiro te faz analisar os acontecimentos e principalmente as atitudes e tudo o que se fala sobre Woody com base no que foi mostrado desde o começo do filme. Porém, durante o longa tanto David, filho de Woody, quanto nós vamos conhecendo mais do passado desse homem, e passamos a interpretar os fatos com um novo olhar e entender o outro lado da moeda, o lado Woody Grant da moeda.
David conversa com pessoas que fizeram parte do passado de seu pai e começa a conhecer mais sobre a sua história. O que faz crescer tanto em nós quanto em David, um maior respeito por aquele velhinho ludibriado por um panfleto. Ou seja, o protagonista desse filme não é Woody, nem David, mas sim a relação entre um pai e um filho. É também necessário ressaltar a atuação de June Squibb, a velhinha mais sincera que Hollywood já viu. Ela, e alguns momentos bem específicos do filme, como os diálogos arrastados entre irmãos de Woody que quase sempre envolvem carros, formam a parte cômica do longa.

Alguns dizem que o preto e branco do filme serve apenas para sugerir um diálogo com o passado. Na verdade representa mais do que isso, representa a vida de Woody, já preta e branca, degastada e sem graça. Porém, David consegue perceber que ela um dia já foi colorida, agitada, cheia de amores e emoções.O filme até pode ser um tanto quanto chato, arrastado e triste, mas no final ele te faz querer largar tudo, se sentar com o seu velho, tomar uma cerveja e ouvir algumas das histórias que ele tem para contar.



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