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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Cinema: Noé - Crítica

Por Eduardo Brunetto


     Nesses épicos, principalmente os que envolvem passagens bíblicas, é muito comum vermos o roteiro deixar de lado praticamente todo o lado humano dos personagens, que quase sem explicação se encontram engajados e tem seus ideias inabaláveis do começo ao fim do filme. Nesse aqui temos algo diferente, algo mais interessante. Dirigido por Daren Oronofsky, vemos uma representação mais humana e mais complexa sobre o dilúvio.

     Narra-se a história de Noé, um homem que vive na terra  pré-dilúvio, é religioso e segue os ensinamentos deixados por seu pai. Noé tem 3 filhos homens e uma agregada, que para a minha alegria é representada por Emma Watson. Eis que recebe por meio de um sonho a mensagem que o mundo vai acabar por meio de um dilúvio, e que a sua missão era construir uma arca para salvar os inocentes: os animais. 

    Para fazer uma história nova da velha, foi criada toda uma mitologia em cima de textos bíblicos, dando ao épico um tom mais de aventura e de surrealidade quanto a quesitos de ambientação. Esse é um ponto um tanto quanto negativo em termos de imersão, porque quando estamos tão acostumados com uma história, ver ser acrescentado a ela gigantes de pedra que na verdade são anjos caídos acaba tirando um pouco seu foco. Mas existe uma explicação e uma função para a sua existência, tirando o estranhamento inicial que eles geram, eles se encaixam bem na trama. Outra coisa que incomodou um pouco sobre a existência desses gigantes, é que eles são uma prova de que Deus realmente existe, então, no filme, não existe tanto uma discussão sobre fé e se o dilúvio realmente vai ocorrer ou não. Deus existe e pune, a prova? Os anjos caídos.

    Mas este é o posicionamento do filme perante a história, e tudo bem não querer gerar esse tipo de discussão. A fé é abordada de uma forma diferente, não é se Deus existe ou não, mas o que ele quer de cada um e como entender suas mensagens. E é ai que entra Noé, o escolhido par construir a arca, salvar os inocentes e deixar o resto da humanidade afogar. É engraçado, mas eu realmente nunca havia pensado que Noé teve que deixar todo o mundo morrer para cumprir sua missão, e é isso que o filme quer, fazer você  pensar em como essa situação realmente seria se ocorresse, principalmente nas questões emocionais humanas. Isso agrega um tremendo peso para o personagem de Noé, que tem que fazer escolhas cada vez mais difíceis, arcar com responsabilidades e tentar deduzir se é isso que Deus realmente quer dele.

    Porém, essa ambientarão mais aventuresca e surreal com uma discussão completamente humana e racional geraram um certo conflito e uma falta de posicionamento por parte do filme. As discussões morais e humanas, teriam muito mais peso se fossem estabelecidas em cima de um universo mais palpável, que se encaixasse na ideia de encarar o episódio racionalmente. Esse contraste trama te deixa confuso e faz com que o peso de Noé e de suas decisões diminua.




    Mas se pararmos para pensar, a história de Noé e o dilúvio em si é um choque entre racional e irracional, e isso foi passado para as telas, porém com uma distância ainda maior entre os dois extremos. E esse contraste acaba fazendo que ambos percam peso e pareçam desalinhados. E faz com que a melhor parte do filme, que é a evolução do personagem de Noé,  fique escondida entre os gigantes de pedra, os sábios na montanha e as peles mágicas de cobra. Mas mesmo assim, ele gera uma reflexão, gera sensações e acaba valendo a pena assistir, você provavelmente não vai se afogar em excitação, mas deve rolar uma marolinha.

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